INSANA EXPANSÃO DO CRÉDITO
Por: Sergio Sebold
Quando houve a recessão econômica de 1929, que ficou para história como o “crash de 1929”, ruiu todo o edifício econômico até então construído, devido à especulação nas bolsas de valores, onde todo mundo achava que ficaria rico da noite para o dia. Em consequência, houve uma queda de toda a atividade econômica americana, com desemprego em massa e fome por todo o país. Estamos hoje novamente diante desta possibilidade, embora com outros matizes, ainda não suficientemente identificada.
As receitas econômicas da época ditada pela economia neoclássica não mais surtiram efeito sobre a sociedade. Neste momento surgiu a proposta de um economista J.M. Keynes, que fez reverter um pensamento que vigorava há séculos e segundo o qual a solução era atiçar o consumo, que tudo resolvia. Ao contrário, disse ele, "devemos começar pelos investimentos, que estes gerarão produção (renda), e com esta se desenvolve todo o consumo para manter a roda do progresso em movimento". Assim foi feito, e a nação americana tirou o pé do atoleiro em que estava metida.
Os empresários em geral tinham esgotado toda a sua confiança no sistema pelas perdas que tinham acabado de sofrer. Não queriam mais investir, arriscar. Sem perda em generalidades acadêmicas, numa situação de bancarrota total, sempre tem pessoas ou entidades que mantêm alguma economia real (talvez até debaixo do colchão), que possa ser investida. Tudo se passa como uma metáfora, em que aquelas pessoas tinham uma pequena chama econômica acesa. Com este candeeiro, o governo através de uma promessa de pagar no futuro ofereceu títulos de longo prazo, para começar a fazer girar toda a roda que estava emperrada. Os títulos dos governos em tese são sempre os mais seguros. O governo é uma entidade perene, não quebra. Ou seja, com uma pequena chama da economia (poupança) fez investimento maciços na infraestrutura, atraindo assim a confiança do empresariado.
Ao fazer contrato com empreiteiras para construção de estradas, portos, aeroportos, barragens etc, começaram a gerar oportunidades de empregos, que se alastravam para todas as atividades do sistema. Nestas condições a roda do progresso começou a se alastrar, para todas as partes do país.
Oitenta anos depois, estamos à beira deste abismo novamente. Novos parâmetros, novas posturas da sociedade, tecnologias que mudaram radicalmente as perspectivas da sociedade, além do fato de que ainda não se encontraram paradigmas convincentes.
Um parâmetro novo em que os governos estão se apegando é atiçar o consumo, que estimularia a produção, pela abundância da oferta de crédito, principalmente pelos bancos estatais. Estamos hoje num caminho invertido, tal qual a economia clássica.
É necessário fazer uma diferença entre o atual momento e aquele da década de 30 do século passado. A economia recomeçou a girar, com a poupança traduzida financeiramente em créditos reais. Isto é, economias resultantes da produção real anterior. Era uma chama viva, mesmo que pequena, que fez acender a grande fogueira do progresso. O que se quer fazer agora é acender uma fogueira com um palito de fósforo já queimado. O dinheiro que se oferece não é mais oriundo de economias reais, mas sim de lastros especulativos, fictícios, criados pela especulação, e escrituradas como real, pela contabilidade dos bancos. Dinheiro fictício transfere riquezas, mas estas não geram novas riquezas. Não agregam valor. Assim, o valor dos ativos deverá cair para valores extremamente baixos, e o resultado será o desemprego em massa, de consequências imprevisíveis.
O estímulo do governo para que as pessoas comprem mais, com créditos facilitados, juros menores, redução pífia de impostos, apenas alivia os problemas de curto prazo. Ainda mais, desviando dinheiro da saúde, da educação, da segurança pública para ofertar bolsas (de cunho político) de todo tipo, transformando uma sociedade subserviente, com um mínimo de obrigação de retorno. Gerando uma imensa massa de dependentes (acomodados) das migalhas, aumentando nossas estatísticas de mendigos e a viver no ócio, sustentados pela grande maioria trabalhadora.
Sem investimentos maciços de longo prazo, na infraestrutura (área em verdadeiro caos), na educação, na saúde, na segurança, continuaremos sendo uma miragem, o “país do futuro” que nunca chegará.
Sergio Sebold, economista, é professor.
Fonte: Jornal do Brasil - País - Sociedade Aberta.